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"One and Only"


Votar: direito ou dever?

São 18 horas e o exterior do Meo Arena encontra-se repleto de gente. Faltam, 30 minutos para que as portas se abram. O entusiamo e a ansiedade sentem-se a cada passo que se dado nestas filas intermináveis para entrar no recinto. Ouve-se um tilintar incessante de um anel a bater numa das grades que ladeia o espaço. Um grupo de pessoas, vestidas a rigor para este espetáculo, camisolas com a cara da cantora e com um “Hello” escrito em letras grandes para que se conseguisse ver bem, sentadas numas escadas, trauteiam as canções de Adele. A artista que daqui a duas horas vai entrar no maior palco de espetáculos do país.

“As portas nunca mais abrem... Estou cheia de estar aqui.”. Um desabafo de uma adolescente que está nesta fila desde as 15 horas. O seu nervosismo é evidente. A sua perna direita não para de mexer, enquanto bate com uma garrafa de água vazia na mão. A mãe, aparentemente tranquila, olha para o lado e respira profundamente enquanto coloca a sua mão nas costas da filha. Um gesto de carinho e de tentativa de tranquilização.

Uns metros à frente está um grupo de 6 jovens. Mochilas às costas. Numa mão, garrafas de água e de sumo. Na outra, o bilhete do concerto. Vão conversando descontraidamente. Soltam uma gargalhada enquanto veem qualquer coisa no telemóvel. O sotaque do Norte, enquanto conversam, não passa despercebido a quem está ao lado.

Ouve-se o arrastar das grades e dois seguranças posicionam-se para começar com esta que é a primera revista dos pertences do público no local. “Menina, quando chegar à beira dos meus colegas, uns metros à frente, vai ter de tirar a rolha da sua garrafa de água ou vai ter de bebe-la toda antes de entrar.”. Enquanto diz isto, o segurança remexe a mochila da rapariga de cabelo ruivo com sardas a salpicar-lhe a cara e com um sorriso doce. “Pode seguir.”. É a ordem que dita a entrada desta miúda, antes de passar por mais uma revista, agora ainda mais rigorosa.

Cinco filas de pessoas. Polícias, devidamente identificados, encontram-se ladeados por grades e caixotes do lixo. Um a um são revistados, exaustivamente, todos os sacos, mochilas, carteiras. Ouvem-se garrafas de água a bater no fundo dos caixotes. “Não se pode entrar com objetos arremessáveis.”. É um agente da polícia, com um ar austero, mas ao mesmo tempo tranquilo, que diz isto para uma senhora, baixinha, com os cabelos castanhos encaracolados, com um sorriso contagiante, que está de mão dada a uma menina, também ela com os cabelos castanhos aos cachos.

Depois de se passar pela revista, toda a gente corre para aquela que é a última paragem antes de se poder entrar na respetiva sala de espetáculos. Ouve-se um bip incessante das máquinas de leitura dos códigos dos bilhetes. Ao todo são 5 filas que andam a um ritmo alucinante. Cada uma tem um destino. Uma para o público em pé. Outra para o balcão 1. Outra para o 2 e por aí em diante. Não param de chegar pessoas. A tensão e a ansiedade são sentidas no ar.

Um grupo de amigos chega-se perto de uma das seguranças. “Boa tarde, está aqui o meu bilhete.”. Quem diz isto é um homem, no alto dos seus 20 anos. Ao lado, traz a sua namorada que lhe sorri, apaixonadamente. Bernardo é o seu nome. Ambos entram e dirigem-se para as escadas que dão acesso ao balcão 2, perdendo-se, assim, no meio da multidão que sobe os degraus com a maior brevidade possível.

São 19h20. Faltam 40 minutos para que o concerto comece. Dois palcos. Um central, pequeno, no meio do público. Um principal, no fundo da sala. Um painel com uma imagem a preto e branco dos olhos fechados de Adele é o que se vê quando se entra na sala de espetáculos.

Aos poucos e poucos, os espaços, que antes estavam desertos, ao redor dos palcos, começam a encher-se. Veem-se pessoas a entrar a correr e a tentar furar pelo público que já ali se encontra. No balcão 1 e 2, as pessoas vão entrando e vão-se sentando no melhor lugar. Nada lhes pode falhar neste concerto.

“Meninas, vamos mais lá para cima, por favor. Aqui não consigo ver bem.” O grupo de 5 amigas, que se encontra no balcão 2, sobe duas posições para se posicionar num sítio que dê melhor visibilidade para o centro do Meo Arena. Uma delas tira o telemóvel do bolso para tirar uma fotografia ao palco. “Põe a foto no Instagram e identifica a Matilde, para ela saber em que sítio estamos.”. Loira, com uns olhos azuis quase da cor do mar, diz para a amiga, enquanto, ela mesma, tira uma selfie.

São 20h05. A sala já está completamente cheia. Ouvem-se gritos do público que está perto dos palcos. Dois homens transportam uma caixa ao longo do corredor que separa os dois espaços de espetáculo. Palmas. Gritos. Ansiedade. Expectativa. No meio de tanto gente ouve-se um “Adele” em alto e bom som.

As luzes apagam-se. “Hello” é a palavra que se alastra na sala. Está dado o mote para que o espetáculo comece. Gritos e mais gritos. Os olhos que estavam no palco principal, fechados, abrem-se, levando a multidão ao rubro. No palco central, vê-se a cantora a surgir, enquanto canta uma das suas maiores e mais famosas canções. Vestido preto, comprido, com toque de cor azul e vermelho, descalça. É assim que Adele se apresenta, enquanto vai acenando para toda a gente que está aqui para a ver. Flashes e mais flashes. Gritos e mais gritos. Palmas. Uma ovação que faz arrepiar qualquer um.

Acaba a canção e Adele fala. Diz um “Olá” num português perfeito. Vai agradecendo ao público todo o carinho que sente, enquanto sai do palco central para ir para o palco principal. Para no caminho para tirar fotos com as pessoas que ali estão. Dá um beijinho na testa de uma menina que ali se encontra a chorar. Ternura é o que se sente.

Com um sorriso enorme, Adele fala sobre a sua carreira. Uma bandeira de Portugal é atirada para os seus pés. Rapidamente a apanha e coloca-a sobre os seus ombros enquanto diz um “Obrigado” em língua portuguesa. Mais uma série de palmas enche o Meo Arena.

Mais uma canção. “Hometown Glory”. Enquanto a canta, aparecem imagens de Lisboa na sua retaguarda. “Mamã! É Lisboa!”, uma menina, nos seus 6/7 anos, diz à sua mãe enquanto olha para as imagens com os olhos esbugalhados de admiração e de felicidade. A mãe aprecia o espetáculo enquanto acarinha os longos cabelos da filha.

“Eu sei que as minhas músicas são todas muito tristes, mas quero que vocês todos se divirtam e passem realmente um bom tempo aqui comigo.”. Remata Adele enquanto, mais uma vez, se dirige para o pequeno quadrado que está no meio do público. “Rumour Has It”, “Water Under the Bridge”, “Miss you” e “Skyfall” são cantadas de forma quase seguida, pois são “as músicas mais mexidas e divertidas” de todo o reportório da cantora.

O ambiente dentro do antigo Pavilhão Atlântico é inexplicável. Num concerto que tinha tudo para ser melancólico, sente-se felicidade, diversão. A britânica dança e puxa por aquele que diz ser “o melhor público da [sua] vida”. Um casal, ambos loiros com vestes pretas e brancas, dança enquanto troca sorrisos e beijos apaixonados.

Pausa para beber água. Mais umas palavras sobre como gostou de conhecer a cidade de Lisboa. As luzes apagam-se. Acende-se uma no centro do palco principal. Dois guitarristas sentam-se na retaguarda da cantora. “Million Years Ago” começa a ser tocada, mas rapidamente é interrompida. A protagonista da noite engana-se na letra. “Desculpem, desculpem, desculpem. Palavras erradas. Vamos começar de novo.”. Solta uma gargalhada que se propaga a todo o público. Recomeça a música. A sua voz enche cada cantinho do espaço. “Estou toda arrepiada. Ela é só fantástica”. Diz a rapariga loira que se encontra sentada, no balcão 2, enquanto se embala ao som da música.

As vítimas da queda do avião na Grécia são recordadas e homenageadas enquanto se ouve “Make You Feel My Love”. O filho da cantora é a inspiração para a “Sweetest Devotion”. A mãe da menina de cabelos longos chora ao ouvir a canção enquanto abraça a filha. Não se ouve um único barulho enquanto a música se expande.

É com “Someone Like You” que a imensidão de pessoas se faz ouvir. A cantora está no pequeno palco central, desce uma cortina que passa imagens da mesma, enquanto o público canta, em sintonia, a música. A emoção toma conta do Meo Arena. Lágrimas é o que se vê em muitas mulheres e homens presentes.

Uma cortina de chuva enclausura a cantora mal se ouvem os primeiros acordes de “Set Fire to The Rain”. As luzes da sala voltam a acender-se e a artista vai acenando a toda a gente. O silêncio volta a instalar-se a ponto de se ouvir a água a bater no plástico. A voz não falha numa única nota. Dos graves aos agudos, Adele mantém sempre o seu registo. Já nos últimos versos da música, a cantora despede-se do público enquanto o palco vai descendo até ninguém a conseguir ver mais.

O seu nome é o que se ouve em conjunto com aplausos e gritos. Dois minutos passam e a cantora volta a aparecer. Desta vez já no palco principal, inicia a música “All I Ask.”

“Esta é a minha música favorita de todo o meu reportório”, diz a cantora antes de se ouvir “When You Are Young” e de fechar os olhos ao mesmo tempo que as luzes se apagam e umas imagens desta aparecem na sua retaguarda. São fotografias de Adele nas várias fases da sua vida. Uma senhora, que até então estava de pé a embalar-se enquanto ouvia o concerto, para e olha fixamente para o painel enquanto enxuga as lágrimas que lhe caem. Já na outra ponta da fileira de cadeiras está uma menina, sentada, a segurar um telemóvel firmemente, enquanto olha atentamente para tudo o que se passa à sua volta. A música chega ao fim.

“Esta é a última. Muito Obrigada, Lisboa.”, diz a britânica enquanto a sua banda começa a tocar “Rolling in the Deep” com um espetáculo de luzes. A cantora percorre o palco de um lado ao outro enquanto puxa pela imensidão de gente que se estende à sua frente. Papéis brancos, com partes das músicas de Adele, são lançados em todo o recinto, para o meio da multidão. Uma imensidão de palmas e sorrisos dão por terminado o concerto que a cantora considera “o melhor da [sua] vida”.



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